sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Educação

Era uma vez uma vaquinha chamada Esmeralda. Ela vivia muito feliz porque podia brincar, correr e se divertir o dia inteiro. Comia o pasto verdinho na hora que quisesse. Gostava de olhar as nuvens, imaginando as comidinhas gostosas que elas pareciam. "Aquela parece um algodão doce, essa outra é pudim e essa aqui... Parece o boi da cara preta... De repente Esmeralda se molhava toda com a chuva que caia.

Um dia seus amiguinhos conversavam. Era um trá-lá-lá que ninguém conseguia entender o que do quê. O coelho estava triste e Esmeralda perguntou:
- O que aconteceu coelho?
- É o capataz novo que chegou querendo organizar tudo! Ele não quer ver mais nenhum bicho solto por ai.
- Mas a gente passa os dias livre. Por que temos que ficar presos agora?
- Eu não sei. Disse que a partir de hoje é ele quem manda aqui.

O capataz era um cachorro grande, que andava sobre as duas patas traseiras e usava um grande chicote. Mas a Esmeralda não levou aquilo muito a sério, afinal, ela só era uma vaquinha. Voltou a brincar com as borboletas que passavam. Estava ali distraída quando sente uma chicotada lhe acertar as costas. Ela escuta vários gritos é puxada e colocada no celeiro. Triste, chorou. Não entendia o que tinha acontecido. Ela só estava brincando.

Passaram-se os dias. Os bichinhos andavam temerosos, cuidavam cada passo, pois não sabiam bem o que fazer, só sabiam que deveriam ficar calados caso contrário, se o capataz não gostasse, eles poderiam sofrer as consequências. Era muito chato e entediante. "Esse cachorro é louco ou o que?!" Questionava dona galinha, arrodeada de pintinhos.

O capataz passou pelo celeiro, orgulhoso da sua eficiência, pois todos estavam quietinhos lá dentro. Seu chicote era mesmo maravilhoso. Mas ainda não estava satisfeito. Os animais ainda saiam da linha, principalmente quando ele não estava por perto. Resolveu racionar a comida. Só comeria quem se comportasse bem o dia inteiro.

Um dia o chicote sumiu. o capataz estava nervoso, pois como que o respeitariam agora? O que ele iria fazer? Resolveu conversar com os moradores do celeiro. Mesmo irritado, respondia as perguntas dos bichinhos falando o porque de fazer isso ou não fazer aquilo. Então ele percebeu o quanto estava sendo bobo castigando aquelas criaturinhas pois, com o tempo, eles foram entendendo que não podiam ficar soltos sempre e que cada coisa deveria ficar no seu lugar.

O capataz esqueceu completamente o chicote. Achava que sabia tudo e aprendeu que respeito não se impõe, se conquista. A vaquinha Esmeralda sabia que tinha hora pra brincar e pra voltar ao celeiro. Agora ele andava satisfeito vendo que todos estavam felizes. Antes de forma autoritária o capataz conseguiu adestrá-los. Mas conversando, ele conseguiu educá-los e viu que era melhor assim.

Thiago Carvalho - 26/11/2010

*Agradeço aos blogs http://caixinhadaadri.blogspot.com/; http://desconstruindoamae.blogspot.com/; e a todos que aderiram a campanha "Não a violência infantil". Foi dos seus posts que concebi a idéia desse texto. Obrigada!

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O poetinha

AH! OS RELÓGIOS

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

Mario Quintana - A Cor do Invisível

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Perdão

Ele saiu sem dizer mais nada. lágrimas rolavam, estava acabado. Cada um viveria sua vida agora. Tudo que construíram, até então, seguiriam do seu jeito. Sonhos, planos, promessas... Nada importava. Não, o amor não acabou. Certamente nunca existiu. Sabe aquelas fagulhas no coração, aquele estado de êxtase que leva a insanidade e procuramos palavras forte, pura, para intensificar o sentimento? Mas com o amor não existe meio termo. Ou é ou não é.

No colo a criança dorme. As mãos cerrada em punho, parece que já sente a insegurança que faz a falta da figura paterna. A mãe lhe olha com ternura, beija sua testa e sussurra baixinho: "Agora somos eu e você. Nunca vou te abandonar, é uma promessa..." Comovida, ela a abraça mais forte e as gotas caem de seus olhos em maior quantidade.

Ele nunca mais voltou. Nem um telefonema, notícias, nada. A dor da alma, abandonadas, como se fossem objetos sem mais utilidade, largadas a própria sorte. Todavia é preciso seguir em frente. O mundo não espera sua recomposição. Ela sofre, exausta, sobrecarregada. E ai descobre que um sorriso, mesmo sem a metade dos dentes, é revigorante. "Nunca vou te abandonar." A vida se abre em um leque de novidades, porém, foi necessário enxugar as lágrimas e se dispor a abrir o leque.

O parquinho. Depois de duras batalhas é hora de construir um pouco de felicidade. A menina dos olhos brinca, numa euforia de dar gosto. Ela assiste satisfeita, contente. Ele volta. Os sentimentos se misturam em um turbilhão de prazer e ódio. O desprezo, o coração em pedaços. Foi muito difícil. "Vai embora", diz ela. Lágrimas rolam no rosto do homem. Seu ego machucado, toda sua vida machucada. "Vocês não mereciam, eu errei, fui um tolo. Me perdoa."

O balanço vazio. Um filme na mente. A criança em pé curiosa. Ele a olha, sorridente. O sorriso é sincero. Ela foca nele. É o mesmo, apesar de abatido continua o mesmo. Foi cruel, ele deve ter tido seus motivos, mesquinhos, porém são seus motivos. Ela pondera: "Não posso condená-lo como fiz antes. Não posso carregar esse peso comigo. Já recuperei minha vida agora. Levar essa mágoa no coração não será mais do que um estorvo. Está perdoado."

Felicidade completa. A criança agora tem pai e mãe. Ele a abraça forte: "vamos ser uma familia novamente". Ela a pega pela mão, é hora de ir embora. "O papai não vai com a gente?" A mãe explica: "Papai decidiu morar sozinho. Ele vai voltar pra casa dele e vai te ver outra hora." Ele está confuso. Ela continua: "O fato de perdoá-lo não quer dizer que nada aconteceu. Ganhou sua segunda chance, mas há um enorme abismo entre o perdão e a confiança. Você só deu o primeiro passo.

Mãe e filha se vão e ele está no parque, abandonado.


Thiago Carvalho - 19/11/2010

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O que é mais importante?

Perdoar ou pedir perdão?
Quem perdoa mostra que ainda crê no amor.
Quem perdoa mostra que ainda existe amor para quem crê.
Mas não importa saber qual das duas coisas é mais.
­É sempre importante saber que: Perdoar é o modo mais sublime
de crescer e pedir perdão é o modo mais sublime de se levantar...

O que é mais: amar ou ser amado?
Amar significa tudo aquilo que todo mundo deve.
Ser amado significa tudo aquilo que todo mundo deseja

Mas não importa saber qual das duas coisas é mais
E sempre importa saber que; Ninguém pode querer amar
sem se esquecer, e ninguém pode querer ser
amado sem se lembrar de todos.

O que é mais: Abrir a porta ou abrir o coração?
Quem abre a porta mostra que vai receber alguém
Quem abre o coração quer que ninguém fique fora.
Mas não importa saber qual das duas coisas é mais.
E sempre importa saber que: Abrir a porta é o modo mais
delicado de ser bom e abrir o coração é o modo divino de amar...

O que é mais: Ir á lua ou ficar na terra?
Quem vai á lua vê mais um tanto de tudo que Deus fez.
Quem fica na terra vê mais um tanto do que o homem pode.
Mas não importa saber qual das duas coisas é mais.
E sempre importa saber que:
Quem vai à lua deve voltar à terra, e quem fica na terra deve ir aos outros...

O que é mais: Dar ou estender as mãos?
Quem da mostra que se despoja de alguma coisa.
Quem estende as mãos mostra que quer alcançar alguém
Mas não importa saber qual das duas coisas é mais.
E sempre importa saber que:
Dar é um gesto de bondade, e estender as mãos
É um gesto de bondade que sublima...

O que é mais; Levar rosas ou enxugar lágrimas?
Quem leva rosas mostra que se lembrou de alguém na felicidade.
Quem enxuga lágrimas mostra que não esqueceu de alguém na infelicidade.
Mas não importa saber qual das duas coisas é mais.
E sempre importa saber que:

Levar rosas é um gesto de amor que todo mundo faz,
e enxugar lágrimas é um gesto que só o amor faz a todo mundo!

Autor: Fenix Faustine

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Responsabilidade

A noite estava bela. Era uma daquelas noites de verão em que tudo que se deseja é uma brisa pra refrescar um pouco o ambiente. Passava um pouco das nove e ainda era possível ver o alaranjado do crepúsculo no horizonte. O dia havia acabado mas a noite estava apenas começando.

Enquanto alguns se preparam para sair, se divertir, dormir ou não, José, mais conhecido na rua como o Seu Zefinha, já tinha seu fogo aceso e estava vendendo seus churrasquinhos como acontecia todas as noites, fosse o tempo que fosse. Em dias de chuva o transtorno era terrível, mas José não desapontava sua clientela e sempre dava um jeito de poder trabalhar nas mais adversas situações.


As pessoas o adoravam, além do seu aperitivo ser o melhor das redondezas, ele era admirado pela sua simpatia e boa vontade em servir seus clientes. Mesmo já sendo um senhor aposentado se negava a ficar em casa esquentando o sofá. Dizia que "O trabalho é o que enobrece o homem". Com os filhos já criados, sua única companhia de todas as horas era dona Margarida, sua esposa, uma senhora meiga que ajudava no preparo dos espetinhos. Na noite o trabalho de Seu Zefinha era assá-los e comercializá-los.


O movimento na praça havia cessado. O relógio marcava uma da manhã e José guardava seus instrumentos de trabalho no carro. Ele fecha o porta malas e enquanto faz a volta para entrar no carro, é surpreendido por um outro carro em alta velocidade. O impacto é fulminante e mata seu Zefinha na hora. O motorista, embriagado, também não resiste ao acidente e morre. O marido de dona Margarida é recebido no céu com grande festa, enquanto o imprudente é encaminhado ao inferno.


O motorista se questiona, reclama: "Que Deus é esse que condena as pessoas? Ele tem prazer em ver tortura e sofrimento? Tudo bem que eu errei, mas terei que pagar a eternidade inteira por isso?" O anjo que o encaminha o fita sério e responde aos seus questionamentos: "O que aconteceu não foi castigo. Deus lhe deu o livre arbitrio, o direito de trilhar o seu caminho e você decidiu trilhá-lo até chegar aqui. O que acontece hoje são consequências dos seus atos. Não responsabilize ninguém pela sua vida. O único responsável por ela é você".


Thiago Carvalho - 12/11/2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Contos de viagem

Era pra ser uma viagem qualquer não fosse pela insistência daquele cara em puxar conversa. Não sei porque tanta vontade de falar comigo mesmo vendo que eu não estava nem um pouco interessado no papo. O relógio já marcava meio-dia, aquele ônibus estrada afora parecia que não chegaria nunca e o estômago implorava por alguma comida urgentemente.
O restaurante era precário mas estávamos sem opção. Luzes queimadas, piso quebrado, uma garçonete sem a menor vontade de servir e aquela maldita voz do meu colega de viagem que resolveu que eramos grandes amigos e estava até então tentando me convencer disso. Como se eu tivesse lá grande curiosidade em saber quem foi o campeão do último torneio de counter strike.

As moscas na mesa tiravam no par ou ímpar pra ver quem ia no prato mais bonito, até porque a quantidade de moscas era infinitamente maior que a de comida. Eu estava sentado a mesa com uma garrafa de refrigerante e um salgadinho, que foram as coisas mais decentes que consegui encontrar naquela espelunca e o meu novo melhor amigo, mesmo com a boca cheia de presunto, não parava de tagarelar sobre a vida das lagartas de Madagascar. Eu já estava desejando que ele morresse entalado com aquele sanduíche.

Parece que Deus, ou não, enfim, alguém ouviu minhas preces porque de repente a criatura começou a mudar de cor e a respiração cada vez mais ofegante. Fiquei apavorado, tudo esparramado sobre a mesa e aquele homem partindo dessa para melhor. E agora? Agora que eu mais precisava ouvir a voz dele não saia uma unica palavra daquela boca desgraçada. A garçonete viu o estado do infeliz e mandou encomendar as velas do caixão. Tudo pronto para o velório quando percebi que ele estava engasgado. Mas pudera falando mais que a lingua tinha mais era que morrer pela boca mesmo.

Tentei levanta-lo da cadeira com algum sacrifício, agarrei-o por trás e comecei a pressionar meus pulsos contra o seu diafragma, o homem enorme, a cena era mais ou menos como a de um macaco pai levando seu filhinho nas costas. Enquanto eu apertava abaixo do seu torax a garçonete veio a suas costas e lhe deu duas bofetadas vigorosas, como se estivesse batendo no namorado canalha. As batidas associadas ao aperto foram suficientes para que um grande pedaço de presunto e queijo, já embebido em sangue, saltasse da sua boca. O cara caiu exausto na cadeira e eu me sentia como se tivesse carregado toneladas por quilômetros a fio. A moça do bar lhe trouxe um copo d'agua enquanto todos olhavam atônitos a cena, num misto de espanto e alivio.

A viagem continuou, dessa vez mais sossegada, mas não sei porque meu grande amigo não quis mais conversar. Talvez ficou muito cansado depois do último ocorrido e agora dorme como uma criança depois de um dia agitado. Bom, ver a morte de perto deve ter feito ele pensar que se tem dois ouvidos e uma boca é pra ouvir mais e falar menos.

Thiago Carvalho - 05/11/2010