sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Coragem

Já passava das duas da manhã e o Rodolfo não terminava aquele whisky. Viu uma garota quando chegou e decidiu que tomaria uma dose e ia "chegar chegando". Era meia-noite quando ele se achou o cara. A menina já tinha olhado-o várias vezes, quando ele resolvia que era a hora, chegava alguém antes.

A noite estava acabando, a ansiedade era insuportável, mas ele não conseguia. Talvez o copo estava muito pesado e ele não dava conta de carregá-lo. Pensou em deixar em cima da mesa mas assim o garoto teria que tomar uma atitude. "Melhor esperar mais um pouco" dizia ele. "Deixa ela se soltar, de repente quer curtir mais a festa". Mal sabia que a moça queria estar curtindo a festa desde que ele chegou.

O Adalberto notou algo diferente no Rodolfo e começou a conversar:

- E ai velho, qual que é? Parece que tá nervoso? E a gatinha que tu ia pegar?
- Tô cuidando cara... Tô só esperando a hora...
- Aham. Tá esperando acabar a festa pra dizer que não pegou porque ela foi embora.
- Capaz, nada a ver. Só vou deixar rolar. Vai que a mina...
- Vai que ela o que? Te de um fora? Isso é normal velho! Pior que isso é nunca tentar! Lembra que o medo é passageiro mas o arrependimento é pra sempre.

Realmente. É absolutamente normal ter medo. A coragem é quando optamos por agir mesmo com medo.

Com essas palavras e com o incentivo do amigo, Lá foi Rodolfo em busca da felicidade depois de longas horas de enrolação. Chegou no lugar e não encontrou mais ninguém. Alguém lhe entregou um bilhete que dizia: "Tava te esperando, mas meu pai veio me buscar. Amanhã nos mudamos para o Canadá. Quem sabe a gente se encontra".

Ele podia ficar com outra menina se quisesse mas sentiu que a noite tinha acabado. Na verdade a noite acabou no momento em que ele decidiu esperar. Haveriam outras festas, outras oportunidades, mas aquela ficou para trás com um nó na garganta.

Thiago Carvalho - 29/10/2010


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Recomeçar

Ela estava chorando. Seus olhos corriam lágrimas incontidas. Ela não conseguia entender porque as pessoas tem que ir. Porque doí tanto a separação, às vezes, tão inesperada, tão avassaladora, tão triste. Sozinha naquele recanto ela ponderava, rodeada de um clima de tristeza.
Era como se o ar estivesse mais pesado. Tudo parecia mais pesado, mais difícil. Suas pernas tremiam, como se fosse impossível levantar. Quanto mais pensava, avaliava a situação, mais complicado lhe parecia. Não seria melhor ir junto? Pra que tanto sofrimento? Pra que viver separado de quem a gente gosta?
Um cachorrinho se encosta a ela, no vestido sujo. Ele olha sua carinha abatida, coloca a cabeça sobre seu colo. Ela percebe o cãozinho, lembra-se do acidente que ele tivera em que perdeu a pata e a mãe. "Não faz sentido", pensa ela. Como ele podia ser feliz naquele estado, depois de ter perdido quase tudo? "Espera", ele não perdeu tudo. Ele ainda tem a mim, a minha mãe, meus irmãos... Ela parou de chorar. Levantou-se de imediato, enxugou as lágrimas, bateu a poeira do vestido e olhou novamente aquele animal risonho que agora não parava de balançar o rabo freneticamente.
Se pôs a correr com o bichinho. brincaram até ela perder o fôlego. Enquanto brincavam, ela simplesmente pensava: "Já não posso fazer nada. É inútil ficar sofrendo. Vou correr e enquanto tiver pernas vou continuar correndo, até porque, ninguém vai fazer isso por mim. A opção de correr é minha".

Thiago Carvalho - 22/10/2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Grandeza

O que é o ser humano diante da grandeza do universo? Um ponto minúsculo, quase imperceptível no meio de um grão de areia vagando no espaço. Todavia, de que me importa a imensidão do cosmo se a minha casa já me dá dor de cabeça suficiente? Trabalhos para fazer, lugares para ir.
Também posso ser grande. Não tanto no tamanho mas nos meus sentimentos, nas minhas ambições, emoções, sonhos, planos. Embora meu corpo seja pequeno, meu espírito tende ao infinito! O importante é que saibamos nivelar esse espírito ao tamanho do desafio. Não consigo abraçar completamente nada que meus braços não possam alcançar, tanto quanto a inviabilidade de dar um passo maior que as pernas. Tudo deve ser feito aos poucos. O avião não começa seu vôo do céu. E por mais que ele se arraste no chão, se proceder bem, vai acabar atingindo o seu objetivo.
Somos um universo em tamanho menor. Prefiro a possibilidade de amar e ter esperanças, na minha pequenez, à solidão do vasto firmamento.
Se um dia estivesse nas estrelas desejaria algo, teria uma ânsia infindável, sem saber do que. Seria somente meu coração tentando voltar para casa.

Thiago Carvalho - 15/10/2010

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Missão

Chuva, o choro do céu que carrega em si todo o peso excessivo do ar que nos cerca. Impressionante o poder de reavivamento de um fenômeno , às vezes, tão catastrófico.

O renascimento de campos estéreis, de construções destruídas. A água precipitada capaz de ir a qualquer lugar nessa forma tão inusitada, tão bem planejada pelo criador, mesmo com o transtorno causado tornando-a vilã, ainda assim, ela é uma aliada a gênese. Ela purifica o ambiente, tem o poder de dar e destruir a vida. Os tapetes verdes, os jardins florido, as cascatas, rios, bosques, florestas.

Uma parceira da mudança. Se meu teto não é capaz de suportar a chuva, é hora de construir um telhado mais forte. As minhas paredes caem com o vento, meu alicerce é abalado, então deve-se reforçar, recomeçar, fazer o necessário.

Existem coisas demasiadamente importantes para serem ignoradas, precisam ser feitas e, acredite, elas serão realizadas independente de você. Somos importantes no todo, quando estamos envolvidos. Sozinhos não somos nada.
Nunca subestime sua missão. Ela é mais valiosa que você.

Thiago Carvalho - 08/10/2010