sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Tarde de Outono

Uma tarde de outono. O vento sopra frio arrastando as folhas secas que cobrem o chão. O sol aparece intercalado entre as nuvens que anunciam a chuva que está por vir. No banco está Eduardo, abatido, segura uma rosa na mão. Levou tanto tempo para ele levar aquela rosa onde queria e no fim, não deu em nada. Alice, que acabara de sair da aula, percebe a tristeza do amigo.

- Oi Edu! Tá tudo bem?
- Tá... tá tudo bem sim...
- Olha, acho que não hein? Que carinha é essa?
- Poxa Alice, é a única que eu tenho. Se tivesse outra não usava essa.
- Eita! Pega a corda que o cavalo tá solto!

Dizendo isso, Alice cai na risada! O amigo não se contém e esboça um sorriso no rosto. Aproveitando o quebra gelo ela continua:

- Agora sim, está melhorando. Quer me contar o que aconteceu? E essa rosa ai?
- Ah, você não vai querer saber. E essa rosa foi a pior bobagem que fiz na minha vida.
- Claro que quero saber, se estou perguntando é porque me interessa! Que bobagem é essa?

Eduardo fica meio contrariado, tenta fugir do assunto, mas a amiga insiste em saber o que está acontecendo. Porque estava ali cabisbaixo, segurando aquela bela rosa aberta. Até que ele resolve falar:

- Sabe a Carol?
- Deixa eu ver... Aquela que senta do nosso lado na aula de matemática?
- Essa mesma!
- Ah entendi, seu safadinho! Você vai entregar essa rosa pra ela! Bem que eu notei os suspiros que o senhor tinha quando ela chegava!

Ele fica ruborizado, mas os olhos continuam vagando, tristes. A menina fica pensativa, ainda não consegue entender a aflição do seu amigo.

- Mas o que há? Por que estás aqui? Não vai lá falar com ela?
- Pois é... Eu já fui... E quer saber? Não foi legal.
- Ah vá! Por isso que você tá assim? Porque ela te deu um fora? Ah fala sério né Edu! Ela nem é lá essas coisas...
- Não é só isso. Ela desprezou a minha rosa. Caramba, ela não precisava ficar comigo, mas eu escolhi essa rosa com tanto carinho. Fiquei um tempão pra achar essa, perfeita, pra ela dizer que não podia aceitar.

Alice está pensativa. Vê a expressão frustrada do amigo e entende o quanto ele estava chateado, pois não foi só um fora. Ele teve todo o seu empenho desprezado de uma forma que não esperava. Eduardo prossegue no seu desabafo:

- Ela podia ao menos ter aceitado o presente, mesmo que botasse fogo depois. Um pouco de consideração é bom também.
- Sim, eu entendo. Mas vê só, você fez a sua parte. Infelizmente tem pessoas que não dão valor ao que a gente sente. Precisamos erguer a cabeça e seguir adiante. Ninguém tem uma placa na cabeça dizendo: "Sou insensível" ou "Sou egocêntrico". Só vamos saber tentando.
- É, tem razão. Sabe de uma coisa Alice? A melhor coisa que fiz hoje foi ter ido falar com ela, se não a gente não teria se encontrado hoje!

Eles caem na risada! Resolvem levantar daquele banco e ir embora. Eduardo pega a rosa na mão:

- Querida amiga, eu deveria dar esse presente a você.

Em um gesto sutil, ele atira a rosa ao chão e pisa em cima, deixando-a em frangalhos.

- Olha ai o que você fez! Destruiu a pobre flor!
- Eu não! A Carol fez isso. Eu só transformei em gesto o que ela já tinha feito com palavras. Essa já era. Você merece uma rosa bem mais bonita!

Ela sorri. Depois de um abraço eles seguem para casa.

Thiago Carvalho - 07/01/2011

14 comentários:

  1. Que bela demostração de amizade a dessa moça. Infelizmente, o coração não escolhe sempre bem, às vezes nos interessamos por pessoas que não se importam conosco, ainda bem que existem os amigos para ajudar a superar os momentos difíceis.
    Obrigada pelo elogio lá no blog, também gosto muito do que você escreve, sempre toca lá no fundo da alma!
    Um abraço,
    Adri

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  2. A garota ñ foi generosa em ñ receber a flor do garotinho,foi ingrata mas...em compensação nesse encontro desagradável nasceu uma bela amizade. Tudo tem uma razão de ser e nada é por acaso.
    Parabéns meu querido.
    Um beijo grande e obrigado pela visita.
    Um lindo dia.

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  3. Haaa que história linda.
    É nessas horas de angústias que saberemos,
    quem é o nosso verdadeiro
    amigo(a).

    Um Bjõ.

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  4. Muito bom sua prosa, neste sábado já me abasteci de sensibilidade!
    Abçs*

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  5. Adorei mesmo essa história Tiago! Vc escreve muito bem.
    Há pessoas que não merecem mesmo o nosso empenho e carinho, mas na vida e no amor, há que tentar, experimentar, fazer e sofrer...desde que isso não nos faça cantar como no sambinha do Cartola..."de cada amor tu herdarás só o cinismo..."
    BEIJOS CARINHOSOS
    LOLI

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  6. Bela narrativa!

    Como sempre os amigos verdadeiros aparecem para nos confortar.

    PARABÉNS!

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  7. Olá, amigo!
    Passei para rever seu cantinho, desejar uma ótima semana com muita luz, paz e inspiração para você continuar escrevendo textos tão lindos como o desse post.
    Bom domingo!
    Bj♥s
    Minas ♥

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  8. Tu és ótimo na narrativa, parabéns, amigo Poeta !

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  9. Essa Carol além de insensível, é patética pois desprezou Eduardo com o simples gesto de carinho que ele tinha por ela, ela é uma desnaturada...


    Beeijos *-*
    Fica com Deus querido.

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  10. Amigo lindo texto com esse belo dialogo, mas essa Carol era uma mocinha sem geito e pouco sensivel,
    Um abraço
    Santa Cruz

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  11. Todos nós teríamos que ter um amigo desse como essa garota neh? adorei o que ela fez com a rosa, porque além de valorizar você, ela se auto-valorizou. Enquanto a carol? não sei bem o que acontece hehe normalmente, as mulheres não recusam rosas. Adorei a história, seu blog é fascinio.

    Dan

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  12. Thiago,

    Eu amei esta crônica. Comum de acontecer nesta faixa etária confusa para muitos e lembranças que ficam pela vida a fora. Vivendo e aprendendo...


    Carinhoso beijo e excelente semana.

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  13. Oiiii primo!

    Gostei mto da história ;)
    vc leva jeito pra coisa...
    Aliás, deveria ter descoberto seu blog antes!! hehe
    Mto legal...

    Nos veremos nos próximos posts ok ?!
    Bjão!!
    T+

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