sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Humildade

Aquele homem caminhava no deserto fazia algum tempo. Não se sabe ao certo quanto tempo. Suas roupas já se deterioravam pelo trajeto e seus pés contavam inúmeras bolhas. Ele poderia estar fora daquele lugar, porém, se julgava forte o suficiente para sair dali sozinho. O sol era escaldante, a areia fervia como centelhas de brasa passeando sobre a superfície lisa das dunas.

O calor era insuportável. A garganta seca clamava, implorava por um gole de água. Na sua direção vinha um bando de homens montados em cavalos, sedentos por sangue e dinheiro. Eles percebem naquele moribundo alguém quase sem expectativa. Resolvem que não vale a pena perder tempo ali e seguem em frente. Um deles, antes de ir, atira para o peregrino uma pequena cuia, onde ainda tem um pouco de água. Ele desdenha da atitude do ladrão:

- Não preciso de esmolas.

As pernas já não suportam mais o peso do corpo. Garante para si mesmo que encontrará água sozinho, sem ajuda de ninguém. Um velhinho, montado num camelo, aparece entre as dunas. Se compadece daquela figura tão queimada e maltratada pelo sol. Ele lhe pergunta:

- Algum problema amigo?
- Não sou seu amigo. Problemas são para os fracos. Só estou em um momento difícil.
- Talvez eu possa lhe ajudar. Tenho um pouco de água e comida aqui.
- Já disse que não preciso. Não o conheço. Deixe-me seguir em frente e não me importune.

O andarilho segue seu trilho cada vez mais exausto. Mais um dia está acabando e ele se pergunta se continuará vivo para seguir adiante. Pouco importa também, se não conseguir sobreviver é porque não merecia viver. Não foi forte o suficiente. Entre delírios, começa a cavar o solo em busca de tesouros hidricos, motores, transporte para casa. O corpo não resiste e apaga.

Ele vai acordando aos poucos, se recordando dos detalhes anteriores. Parecia que estava tendo um terrível pesadelo. Percebe que está numa barraca feita de tecidos, erguida com varas. Ele vê o velhinho o qual tinha lhe oferecido ajuda antes.

- O que estou fazendo aqui?
- Eu o trouxe. Encontrei-o desmaiado a poucos metros do local do nosso primeiro encontro. Sua boca estava seca. Vi que estava bem desidratado. Deve estar caminhando a dias!
- Não é da sua conta. Porque veio atrás de mim, se eu disse que não precisava de ajuda?
- Porque não acreditei na sua voz. Há certos momentos em que precisamos ver além do que as palavras dizem.
- Pode me ajudar a voltar para casa?
- Claro! Está disposto a receber ajuda?


Thiago Carvalho - 10/12/2010

13 comentários:

  1. Bom dia Thiago!


    Um ótimo conto que ilustra muito bem a frase final: " - Claro! Está disposto a receber ajuda?" e a assertiva: "Há certos momentos em que precisamos ver além do que as palavras dizem."


    Carinhoso beijo e excelente dia, amigo.

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  2. Porque não acreditei na sua voz. Há certos momentos em que precisamos ver além do que as palavras dizem.
    - Pode me ajudar a voltar para casa?
    Esse pedaço do texto marcou ,pois é udo que estou sentindo agora.
    Eu estou em casa mais na verdade meu pensamento vive a voar .
    Amei seu blog estou seguindo você espero que goste dos meus blos também.
    E possamos seguir como amigos nesse mundo virtual onde a realidade colocamos aqui eu principalmente atravez de texto.
    Um beijo carinhoso .
    Um feliz final de semana ,Evanir
    www.fonte-amor.zip.net

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  3. Excelente texto!

    Realmente há momentos que por mais que estejamos necessitados de uma ajuda, deixamos o orgulho tomar conta e ''morremos à míngua''.

    Parabéns novamente!

    Grande Abraço!

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  4. Olá!!! Tem selo pra vc, lá no meu blog!!!
    Beijo.

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  5. Olá!
    Puxa mais um texto Maravilhoso que passa algo a mais do palavras *um sentimento*.

    Parabéns

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  6. É necessário olhar por trás das palavras para ver quando alguém pode estar necessitado. Excelente alerta, e o texto é tocante!
    Boa semana
    Adri

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  7. Algumas pessoas não querem se ajudar, isso é fato. Convém mesmo perguntar antes "Queres ser ajudada?" Até a caridade deve ser feita com todo cuidado. Alguns até se ofendem com ela.

    Abraços,

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  8. Thiago incrível, e surpreendente uma pessoa superar a si mesmo a cada dia mais,vc se supera a cada texto, gostei muito!

    Seus textos são como ímãs, quando se lê a primeira frase, suas palavras prendem a atenção do leitor.

    Verdadeiras lições, realidade descrita em palavras, que valem a pena refletir.

    Parabéns, gostei muito!

    Beijos, com carinho
    Valéria Souza!

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  9. somos um pouco de cada um... impossível sermos ilha.



    bjs meus

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  10. Thiago meu querido..
    Te agradeço pelo carinho da sua visita
    muitos passam pelos nossos blogs sem se dar conta ,que ali tem algo que postamos com sentimentos.
    È bem verdade ñ sou escritora nem mesmo poetisa ,porém jamais posto aquilo que ñ se identifica comigo.
    Seu comentario no meu blog me deixou muito feliz.
    Uma linda semana .
    Um abraço carinhoso,Evanir.
    Querido caso gostar tem um mimo de Natal postado no blog para dar um ar de Natal aqui vai ficar lindo tanto quanto você.
    www.fonte-amor.zip.net

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  11. Perfeito! ótima lição em uma boa história! Hahá, gosto cada vez mais daqui heins.

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  12. Olá,
    gostei muito deste post. Ele nos ensina a não sermos tão orgulhosos...
    não somos ilha e nem deserto...
    somos terra e água...
    sol e chuva...
    manhã e noite...
    primavera e inverno...
    abraço,

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  13. Um conto maravilhoso com uma lição sábia...há alturas em que não podemos estar sózinhos, mas para isso, temos que abrir aos outros o nosso coração...
    Beijos

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